sábado, 4 de abril de 2015

"Acender as velas já é profissão, quando não tem samba, tem desilusão..."

Imagem retirada do site de notícias G1

"(...) É mais um coração que deixa de baterUm anjo vai pro céuDeus me perdoe, mas vou dizer. Deus me perdoe, mas vou dizer..." 

   A música "Acender as velas" de autoria do sambista Zé Keti, porém muito conhecida através da voz de Nara Leão, foi gravada há mais de 50 anos, no entanto seu contexto social ainda soa tão atual que parece ter sido ontem.
   Em tempos difíceis, em que se discute a redução da maior idade penal, um menino de apenas 10 anos: Eduardo de Jesus, pobre, morador do Complexo do Alemão, que sonhava ser bombeiro é atingido por uma bala na cabeça na porta de sua casa pela polícia assassina do governo do Rio de Janeiro. Não obstante, o mesmo policial ainda ameaçou com uma arma a mãe que reclamava à ele a morte de seu filho. Em entrevista, a mãe disse que jamais se esquecerá do rosto do assassino de seu filho e, eu como mãe, jamais esquecerei de suas palavras:

“Eu marquei a cara dele. Eu nunca vou esquecer o rosto do PM que acabou com a minha vida. Quando eu corri para falar com ele, ele apontou a arma para mim. Eu falei ‘pode me matar, você já acabou com a minha vida’” - Terezinha Maria de Jesus, mãe do menino morto.
Imagem retirada do site de notícias G1

   A polícia alega que o tiro foi acidental, que ocorria uma troca de tiros no momento e que por isso a criança foi atingida, versão contestada pela mãe e pelos demais moradores que testemunharam o ocorrido.

   Após a perda de seu filho, Terezinha disse em entrevista à um site de notícias, que pretende enterrar seu filho no Piauí, de onde saíram há 15 anos e para onde deseja voltar a morar com sua família, assim que a justiça for feita. Terezinha acredita que a justiça pode e deve ser feita, irá lutar até o fim.

   Não foi uma morte isolada, Eduardo foi a 4° vítima em menos de 48 horas. São Cláudias, Amarildos, Eduardos e outros que sequer chegam a ser notícia, que sequer chegam a ter seus nomes divulgados. 
   Os moradores revoltados com a morte de Eduardo e com toda violência que são submetidos diariamente iniciaram na noite de quinta feira  uma série de protestos, entre eles uma homenagem com velas acesas e uma caminhada pelas ruas do complexo e um ato que foi repreendido violentamente pela PM com spray de pimenta e balas de borracha, enquanto os moradores empunhavam bandeiras brancas, faixas e cartazes que pediam paz.

Existe a possibilidade de nova ocupação 

   Como se não bastasse todo o sangue derramado até o momento, foi divulgado hoje no jornal que a Coordenadoria da Polícia Pacificada (CCP) cogita a possibilidade de uma nova ocupação no Complexo do Alemão. Para que não se lembra o Complexo foi tomado em novembro de 2010 numa cena digna de Hollywood que resultou na prisão de vários traficantes e que rendeu a polícia título de "heróis libertadores" e várias fotos das bandeiras do Brasil e do Rio de Janeiro, simbolizando a "retomada do poder" do povo brasileiro e carioca. Cenas que representam o quanto fascista é a PM e o próprio Estado.

Feliz Páscoa!


   Na morte sem ressurreição do menino Jesus da favela, Maria chora por seu filho que não voltará ao terceiro dia. 
Ilustração retirada do site Carta Capital

   E a pergunta que fica depois de tudo isso é: até quando iremos assistir pacificamente o massacre da juventude pobre e negra nas comunidades? Amanhã é páscoa e muitas famílias se sentarão ao redor da mesa para celebrar a vida e o renascimento espiritual, recordando Jesus Cristo e seus ensinamentos sobre amor ao próximo. Mas quem é esse próximo a quem as pessoas pregam tanto o amor? Existe na prática?

   Enquanto a solução para a violência for a própria violência, viveremos numa sociedade doente onde cenas de um beijo entre pessoas do mesmo sexo causam mais comoção do que a morte tão prematura de uma criança. 
Não esqueceremos!
   
Ilustração de Vitor Teixeira, retirada do Facebook










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