Veio do nada, uma ideia de trocar sua foto de perfil pela de uma pessoa morta ou
desaparecida por causa do regime militar. Entre tantas histórias, fotos e
revelações tristes, me deparo com um sorriso, um sorriso que me paralisa. Era o
sorriso de uma menina bonita, não exatamente pela beleza física, mas pela
beleza daquelxs que lutam sem nunca perderem a doçura. Fiquei muito curiosa com
esse sorriso, parecia uma pessoa feliz. Então, comecei a pesquisar tudo o que
pudesse estar além dessa imagem.
Maria Lucia Petit - divulgação
A menina linda do sorriso bonito tem nome: Maria Lucia Petit.
Maria, como era conhecida pelos companheiros, era professora primária,
dedicava-se ao ensino para crianças nas regiões rurais e contava 22 anos quando
foi vista pela última vez com vida. O que Leva uma jovem professora a abdicar
de “suas crianças” e entregar-se à Guerrilha do Araguaia, senão o sonho de
ajudar a construir uma sociedade melhor, mais igualitária e livre?
Infelizmente a guerrilha não teve o apoio das massas e por
essa razão muita gente perdeu sua vida. O regime “comprou” o apoio de alguns
proprietários de terras ao redor dos acampamentos, por uma quantia miserável
entregavam onde os “paulistas” estavam escondidos.
Voltando ao sorriso de Maria Lucia, esse foi apagado de
forma covarde. Existia um camponês, o qual a professora considerava
amigo/aliado, esse “amigo” contribuía com mantimentos e itens de primeira
necessidade ao acampamento. Acompanhada de outros dois companheiros, Maria
Lucia foi ao encontro dele para, como de costume, buscar alguns produtos. No
entanto, tratava-se de uma emboscada, o próprio amigo (até então de confiança)
desferiu-lhe dois tiros: um no quadril (que a fez cair de joelhos) e outro no peito, matando-a instantaneamente.
Era o fim de uma vida, da vida de uma jovem professora, de
uma filha, de uma militante, de uma mulher. Os militares envolveram seu corpo
em uma paraquedas e enterraram em Xambioá, no Tocantins. Lá, o corpo
de Maria Lucia permaneceu por muitos anos, até ser encontrado em 1991 e
finalmente reconhecido e enterrado em 1996. Maria só tinha 22 anos.
Indo mais adiante, essa história é ainda mais triste. Maria
Lucia era antes de tudo, mais uma dos irmãos Petit da Silva, a família era
constantemente vigiada pelos órgãos de espionagem da ditadura desde 1969. Seus
irmãos, Jaime e Lucio, tiveram o mesmo fim que Maria Lucia. “A
minha família foi dizimada” disse Laura Petit a respeito do que o regime
militar fez com seus irmãos. Durante muitos anos a mãe aguardava o retorno dos
filhos, acreditava que estariam presos em algum lugar ou exilados fora do
Brasil e sem condições de se comunicar, essa espera durou a vida inteira no
caso de Jaime e Lucio. Maria Lucia só teve seus restos mortais reconhecidos devido
a uma matéria do jornal O Globo , em 1996, que trazia fotos (entregues
anonimamente por um militar) de guerrilheiros mortos e sem identificação, a
família Petit reconheceu a professora, a foto trazia detalhes idênticos aos da
ossada encontrada em Xambioá (no ano de 1991) e foi encaminhada ao Departamento de Medicina
Legal da Unicamp. Maria Lucia agora está enterrada em Bauru, já seus irmãos não
tiveram seus restos mortais encontrados até hoje.
Jaime Petit - divulgação
Lucio Petit - divulgação
Essa é apenas uma das muitas histórias dessas pessoas que
entregaram suas vidas à luta por igualdade social e liberdade.
Irmãos Petit, presente!
52 anos do GOLPE militar
52 anos da VERGONHA MILITAR
Fontes:
Para exaltar a raiva:
"Onde fica o desespero
De quem ainda procura
Abra os seus arquivos
Covardes militares!"
"Onde fica o desespero
De quem ainda procura
Abra os seus arquivos
Covardes militares!"